Com surgimento em Nova York, nos anos 60, a cultura do ballroom ganhou popularidade no Brasil desde sua chegada ao país, em 2015. Foi a partir da movimentação coletiva de diversas lideranças que a cultura passou a ser disseminada pelo país, com pesquisa sobre voguing, runway e outras performances, e gerou os primeiros encontros oficiais da comunidade, chamados de Balls. Com uma articulação em cidades como Belo Horizonte, Brasília, Recife, Rio de Janeiro e São Paulo, diversos ambientes passaram a organizar eventos sobre a cultura. Este cenário, entretanto, vai muito além das festas, já que promove a aglutinação de temas sensíveis aos seus integrantes, como as questões identitárias, a celebração de corpos diversos e a ocupação de espaços que antes eram negados à população preta, periférica e LGBTQIAPN+.
Apesar da imagem sempre remeter à ideia de fervo e duelo entre famílias, conhecidas como houses, diversas temáticas percorrem a existência de quem frequenta os bailes. Por esta razão, os participantes preferem adotar o termo “movimento” ao se referir aos encontros dessas pessoas. “Existe uma estrutura artística e política que também está representadas ali, pois tratam-se de corpos que, historicamente, tiveram negado seu direito de pertencimento, então, trazer todas as temáticas é uma forma de resistência da cultura dos seus integrantes, que são pessoas pretas e LGBTQIAP+”, explica Félix Pimenta, Father (líder) da House of Zion, Casa de Pimentas, e um dos membros do Coletivo AMEM.
Pimenta ainda destaca que a comunidade por trás do ballroom reforça discussões afro diaspóricas, ou seja, da valorização de elementos pertencentes à comunidade preta, por isso, o movimento não existe sem que outras pautas estejam junto. “É essencial falarmos sobre saúde desses integrantes, sobre pessoas que vivem com HIV, direito à prevenção, corpos de pessoas trans, diversidade sexual, direito à cidade, gentrificação e outras discussões que cruzam a comunidade dos bailes”, reforça.
Este é o motivo pelo qual os participantes evitam se referir aos encontros apenas como festa. “Temos uma linguagem muito particular, uma estrutura de movimentação da comunidade, um código único dessas celebrações, por isso, não se pode entender como algo temático, capaz de ser reproduzido em qualquer ambiente ou por qualquer pessoa”, explica.
Outra integrante do coletivo AMEM, a Legendary Zaila Candace, Mother da Casa de Candaces e integrante da House of Zion, conta que a história da ballroom passa pelo recorde de LGBTQIAPN+ expulsos de suas casas e tendo acolhimento entre si, trazendo um novo significado para o contexto e representação da palavra família. “O pico das discussões relacionadas ao grande índice de pessoas convivendo com HIV também é parte da discussão e se faz presente até hoje em categorias e temas criados a partir dessas vivências”, explica Zaila, que vê o reconhecimento de profissionais de fora do país sobre o movimento no Brasil como gratificante, pois é uma forma de aprovação do trabalho feito aqui.
Organizado em famílias, as houses batalham em grupo ou individualmente em categorias que celebram, desde os looks de integrantes, até movimentos coreográficos da dança voguing e outras linguagens. Ao som de ritmos afro contemporâneos como house e funk, um mestre de cerimônias, chamado de chanter ou commentator, comanda as rimas que embalam as batidas da música enquanto os integrantes se apresentam. A banca de júri avalia quais os elementos foram mais bem executados dentro de cada tema proposto. Vale reforçar que, apesar do caráter de duelo, as casas se comportam como irmãs, pois entendem que, mais do que a vitória, celebrar a existência da comunidade é algo que reforça a importância de ocuparem estes espaços.
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